BLOG DO CUCA

Centro de Umbanda Caminhos de Aruanda (CUCA) localizado na cidade do Rio de Janeiro, na rua eng. Mário de Carvalho, 135- Vicente de Carvalho (próximo ao metrô de Vicente de Carvalho), com sessões (consultas com caboclos pretos velhos) às quartas, a partir das 19:00 horas, e aos sábados, a partir das 18 horas. TODOS OS NOSSOS ATENDIMENTOS SÃO GRATUITOS. O intuito deste blog é trazer informações acerca do CUCA e da Umbanda, mostrando nosso dia-a-dia.

27.10.09

Festa de Malandro 31/10 18 horas

Teremos, no próximo sábado, dia 31 de outubro, uma gira festiva em homenagem a falange dos Malandros e Zé Pelintras. Pela importância do trabalho realizado dentro da Umbanda, e especial no CUCA, a presença de todos é indispensável!
A gira começa às 18 horas. Mas antes teremos um almoço beneficente (13 horas), onde nos confraternizaremos já sob a influência dos nossos amigos! o Almoço custará somente R$7,00 e o prato é carne seca desfiada com aipim frito.
Vou transcrever o artigo que foi publicado no informativo do mês de novembro que reflete bem quem são esses amigos de todas as horas.


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Sem sombra de dúvidas, esta é uma das falanges mais populares e, paradoxalmente, também mais mal compreendidas por todos, Umbandistas ou não. Quem nunca se deparou com um adesivo na parte de trás de um carro com a frase “sou amigo do Zé” ? Ou quando pensamos em boemia, malandragem, tirar proveito de alguma situação, logo vem à mente a figura de um homem vestido com um terno branco, sapatos brancos, gravata vermelha, com um chapéu de palha?
No entanto, dentro do terreiro de Umbanda é que se observa o verdadeiro trabalho desses falangeiros. Como verdadeiros mestres, e assim são chamados no catimbó, eles trazem a cura para os males físicos e espirituais. Por muitos considerados médicos, por outros como guardiões da fartura, “seu” Zé, como carinhosamente é chamado, tem sempre uma palavra amiga para aqueles que o procura; mostra-se disposto para estender as mãos aos necessitados; instrui-nos com ensinamentos grandiosos acerca da confiança no amanhã e na alegria de se viver, mesmo que a dificuldade insista em se fazer presente na caminhada.
No CUCA, seu trabalho é grandioso. Apesar de se cantar também na gira de exu, não é considerado como tal. Ele transita por várias linhas, e talvez por ter a palavra “CARIDADE” como sendo o requisito único para sua chegada nos terreiros, é que não se importe quando ou para quem tocar. Talvez seja mais um ensinamento para todos nós, como querendo dizer: “Me chame que estarei presente, não importando quando”.
Quem se aproxima dessa entidade para conversar, logo cai por terra todo o preconceito que o circunda. Ele não é vagabundo, nem tampouco mulherengo ou bêbado. Mestre nas palavras, nos ensinamentos. Fala a linguagem daquele que o procura como forma de se chegar ao entendimento. É descontraído, tem gingado nas palavras e nas pernas, mas é a metáfora para que tenhamos os mesmos “gingados” nas adversidades que a vida nos proporciona.
No CUCA dedicamos exclusivamente uma data para festejá-lo. Por sua determinação, a fartura tem de estar presente. Cada um que chega deverá ser recepcionado com as farturas da matéria, mas sabemos que a fartura espiritual é dada antes mesmo de o evocarmos.
Agradecer a sua presença em nossas vidas, pedir para que sejamos sempre merecedores dos seus conselhos e dos seus trabalhos. Essa data fica, como ficou no ano passado, como sendo o símbolo da desmistificação da sua falange, mas também como símbolo da fartura, da alegria e da descontração.
Estejamos todos lá!
Paz e bem a todos!

12.10.09

Primeiramente, gostaria muitíssimo de agradecer as visitas que o nosso humilde blog tem recebido. Em 1 semana foram quase 300 acessos, o que nos dá estímulo para continuar descrevendo os trabalhos da nossa casa de caridade e também passar um pouco do cotidiano da Umbanda, dos pormenores dos trabalhos das entidades. Muitas vezes, colhemos histórias que nos foram ditas nas conversas edificantes e as transcrevemos aqui. Trocamos por vezes o nome da pessoa e não identificamos a entidade, até para que não haja personalismo e não floresça o mal maior de todo médium: a vaidade. O trabalho no anonimato é muito mais difícil do que se aparenta. E por saber que o ensinamento do Cristo "Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita" anda em baixa nas religiões como um todo, é preferível acertar no anonimato a arriscar e perder na identificação de alguém.
Nessas andanças na busca desenfreada a fim de saber um pouquinho sobre as histórias do "povo de aruanda" e seus ensinamentos, escutei por esses dias uma frase de uma criança espiritual que me fez pensar. Assim disse ele: "Papai do Céu escuta com o coração e não com os ouvidos".
Muitas vezes, procuramos a palavra certa para colocarmos nas orações. Elaboramos textos com a formalidade perfeita e sem quaisquer erros no intuito de agradecer a Deus as bênçãos concedidas. Ou simplesmente "rezamos" a oração de São Francisco, mas que na verdade somente reproduzimos as palavras.
"Papai do Céu", pelo que pude perceber, não se importaria se, antes de deitarmos, elevássemos com fé e respeito e pensássemos "O meu amigo de cima, ajuda esse velho aqui. Tô precisando muito, e acredito no seu poder. Vê o que pode fazer por mim. Mas já vou avisando: se também não tiver muito o que fazer, tudo bem. Deve ser para eu aprender, né? Mas assim que aprender, vc me tira dessa? Obrigado! Sua bênção...".
A ibeijada é um exemplo disso. Sem formalidades, sem "scripts" e nem palavras rebuscadas. Só amor, ingenuidade, mas acima de tudo, ensinamentos. Ao ouvir daquele ser, que diz ser ainda tão pequeninho, me fez relembrar uma passagem do Cristo: "E quando orares, não sejas como os hipócritas; porque folgam de orar em pé nas Sinagogas, e nos cantos das ruas, para dos homens serem vistos. Em verdade vos digo, que já têm sua recompensa.
Mas tu, quando orares, entra em tua câmara, e cerrando tua porta, ora a teu Pai, que está em oculto, e teu Pai que vê em oculto, ele to renderá em público.
E orando, não paroleis como os gentios, que cuidam que por muito falar hão de ser ouvidos.
Não vos façais pois semelhantes a eles; que vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais.. (Mateus, cap. VI , vv. 5 a 8).
Viu? Ainda dizem que a Umbanda não é cristã...
Paz e bem a todos!

4.10.09

Hoje é dia de São Franciso- Visita ao Curupaiti

Começo escrevendo já com os olhos marejados. Possivelmente até o fim deste texto estarei com a camisa toda molhada, assim como ocorreu durante boa parte deste DIA BENDITO (como se todos os outros não fossem).

Hoje é dia de São Francisco de Assis. Nosso Padroeiro, Patrono, condutor chefe da nossa vida espiritual. A ele devemos nos espelhar, por tudo que foi em vida e por tudo o que reproduz até os dias atuais.

Como forma de sentir este espírito Franciscano brotando de nossos corações ainda tão áridos desse amor, fomos à colônia Curupaiti, que cuida de Hansenianos, em sua maioria, mas que atende a outros tipos de nefermidades dermatológicas. Levamos, além da nossa boa vontade, alguns utensílios de utilização para os curativos, que são feitos dentro um centro espírita que funciona dentro da colônia, chamado Centro Espírita Filhos de Deus. Uma obra grandiosa erguida por um homem singular, de nome Amazonas Hércules, já desencarnado, que com certeza terá em um futuro próximo uma postagem específica para ele.
Marcamos no CUCA às 10 horas a fim de organizarmos as doações, até porque à tarde iríamos a um asilo em Madureira (que também terá uma postagem). Mas além de observar a descontração no trabalho da organização das doações, víamos um certo ar de preocupação, pois não saberíamos o que iríamos encontrar na Colônia. Será que estávamos preparados para ver tamanho sofrimento? Isso permeava o pensamento de muitos..

Assim que terminamos as arrumações, fizemos uma prece sincera dentro do terreiro, com uma energia sem igual. Inexplicavelmente (pelo menos até àquele momento) a emoção era muito forte, ao ponto de ter de segurar o choro.
Quando chegamos à colônia, nos deparamos com uma cidade dentro de Jacarepaguá! É enorme, tudo muito lindo, com várias ruas, prédios, casas, bares, campos de futebol, Igreja Católica, Batista e o Centro Espírita, no qual nos direcionamos a ele. Não poderíamos ter uma recepção melhor! Fomos muito bem recebidos tanto pelo presidente como pelos colaboradores do centro. Mostraram-nos como funciona o local, muito bem organizado. Dali fomos levados até a sala de curativos...e a partir de agora só emoções fortes...e maravilhosas!
Ao entrarmos, o cheiro de éter e dos demais remédios dava ao ambiente uma sensação de hospital, apesar de ser um local de no máximo 20 metros quadrados. Nas paredes, fotos de Kardec, Bezerra de Menezes, Irmã Scheilla (que merece ser conhecida!Um espírito iluminado), Amazonas Hércules e a figura de Jesus.
Por inspiração divina, Gregório pediu que déssemos as mãos e elevássemos o pensamento ao alto a fim de agradecer por aquele momento. Todos, inclusive os participantes do Centro Filhos de Deus, nos entrelaçamos na fé e ouvimos de Gregório a oração que ainda toca o coração. Gotas de luz eram vindas do Alto. O ambiente se iluminou. E como coincidência (?) no meio da oração sai de um alto falante que estava na rua a melodia da Ave Maria. Neste momento Gregório chama por Maria, a Mãe de Todos nós, que nunca nos abandonou, e rogando aos céus, pede a sua intercessão para aliviar as dores daqueles irmãos...a voz quase não saía... o choro não deixava...e todos nós choramos, inclusive os irmãos do centro espírita. Uma emoção que a minha mente não deixará que o tempo apague.

Quando pensei que minha cota de lágrimas já tinham acabado para aquele dia ( e pelo mês inteiro, diga-se de passagem), fomos conhecer as enfermarias.
Meus irmãos, ali não há tristeza nem sofrimento! Há resignação, aceitação, paz espiritual , alegria daqueles enfermos que estão passando pela provação da Hanseníase. Fomos levados para a ala feminina, onde havia uns 10 leitos, no máximo, de senhoras com idades bastante avançadas e com a dilaceração parcial dos corpos por causa da Hanseníase. Cumprimentamos, abraçamos todas as senhoras. Eu estava já sentado do lado de fora com algumas pessoas do CUCA quando fomos chamados para irmos até um quarto porque uma senhora queria cantar.
Fui. Ao chegar no quarto, pequeno e simples, vi uma senhora dos seus 80 anos, talvez, sentada à beira da cama, de óculos escuros para esconder a cegueira decorrente da Hanseníase. Ela não tinha a perna esquerda e os braços eram atrofiados e não tinha mais quase a totalidade dos 10 dedos das mãos. O rosto também estava um pouco deformado, mas não havia em seu corpo nenhum sinal de ferida. Disse ela que sabia cantar a oração de São Franisco. Ao iniciar, uma voz melodiosa, linda...parecia uma soprano. E acreditem, não estou exagerando. E conforme ela cantava, ali todos choravam. Estávamos diante de uma leprosa (só uso essa expressão fazendo alusão de como chamavam antigamente), como São Francisco tanto os amou há quase 800 anos atrás, e estando ela louvando-o naquele momento. Simbolicamente não poderia ser mais emocionante! Um legado de amor deixado por São Francisco que ainda se perpetuava há exatos 783 anos de seu desencarne. Todos choravam pela simbologia e pela voz, e por saber que Francisco de Assis ali estava...
Quando terminou, batemos palmas animadamente como se ela fosse uma artista em um palco iluminado (e era!). E assim ela continuou cantando mais oura música “Ave Maria do Morro”. Eu já a conhecia, mas a partir de hoje tenho ABSOLUTA CERTEZA de que quando a escutar, chorarei como chorei com a entonação dada por ela... depois cantamos “Quanta Luz”, e terminamos com “Carinhoso”... um sentimento de paz invadiu a todos... e entre uma música e outra, ela disse: “Sou MUITO feliz”.... desculpem, amigos, não tenho como descrever isso...há pobreza de vocabulário para isso....reproduzi numa lágrima, como acontece agora ao me lembrar do momento, meus sentimentos.... de amor, de conhecer tantos espíritos que estão iluminados pela dor da Hanseníase, e pela minha pequenez....por pedir coisas tão inúteis...por preocupações tão passageiras e por brigas tão mesquinhas...tive vergonha de mim. Tive vergonha da minha impaciência no cotidiano, nas oportunidades perdidas. Na alegria que eu deveria ter de viver, mas que por vezes esqueço.

O dia não poderia ter sido melhor. Ao sair, fiz uma prece sentida, agradecendo por tudo que me foi ensinado. Espero, e farei todo o esforço possível, para não esquecer o que todos nós do CUCA passamos ali. Que coloquemos na nossa casa de Umbanda o amor, a fé, a paz e a alegria que encontramos com os nossos irmãos da Colônia. E agradeço a eles pela CARIDADE que fizeram conosco.

Paz e bem a todos!

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